É assim que muitos motociclistas conhecem o capacete, item de segurança essencial para qualquer um que se aventure em um passeio sobre duas rodas. Mas foi recentemente que realmente entendi o verdadeiro significado do título dado ao elmo de fibra, resina, tinta, espuma e plástico.
Ao partir em uma motocicleta rumo ao interior de São Paulo, para ser mais exato, à uma cidade chamada Jacupiranga, onde meus pais me criaram e que residem até hoje, eu tinha em mente apenas duas coisas:
1º) A condição da estrada (devo mencionar que boa parte da viagem seria percorrida pela BR 116, conhecida como a Rodovia da Morte)
2º) O clima (nuvens escuras começavam a se formar naquele fim de tarde de terça-cinzenta).
Sabia que familiares e amigos aguardavam minha chegada, sendo assim, optei pela prudência à pressa, ainda que estivesse empolgado com a bela canção vinda dos pistões em V e dos 47 cavalos nos quais estava confortavelmente sentado.
O “brabulhar” do motor ditava o ritmo cardíaco, juntamente com as belas paisagens dos Campos Gerais, cuja presença pode ser admirada ao longo de boa parte da PR 376. Tais imagens distraíram-me até o momento que percebi o quão isolado eu estava do resto do Mundo.
Deparei-me com um sorriso besta no canto da boca e tomado por uma mistura de contemplação e embargo, percebi meus olhos lacrimejarem. A beleza proporcionada pelo ângulo de visão de quase 90º só não perturbava mais que o silêncio disfarçado de silvo. Estava só e aquela condição se prolongaria por algumas horas.
Não me lembro quando foi a última vez que passei tanto tempo comigo; tanto tempo com Deus.
Ciente da situação na qual me encontrava, entreguei-me ao fato. Minha voz ecoava no 'Templo' e enchia meus ouvidos com perguntas e respostas, gritos e letras incompletas de músicas cujo título não era capaz nem sequer de me lembrar.
Senti-me feliz e triste, sozinho e amparado, mas acima de tudo, senti-me seguro naquele lugar. Estava certo de que nada que estivesse além da viseira poderia me incomodar. Gotas de chuva tentaram, mas sem sucesso. Ignoradas, logo me deixaram em paz.
Mais insistente foi a serração. Essa se fez presente por quase metade da viagem, mas a única coisa que ela conseguiu foi prolongar minha estada no 'Templo'. O frio também fez sua parte, porém, assim como os outros que tentaram, falhou e não foi capaz de me dispersar.
Eu e meus pensamentos estávamos como há tempos não acontecia. Dividindo o mesmo espaço, juntos no mesmo lugar, deleitamo-nos com a sacra privacidade proporcionada pelas muralhas de acrílico.
Assuntos não faltaram, distância, sim. A viagem chegava ao fim e como em um céu estrelado, as luzes do meu destino surgiram no horizonte.
Em uma fração de segundo fui capaz de reconhecer aquela que, aos meus olhos, era a mais cintilante. A única coisa que conseguiria me fazer deixar o conforto e a companhia dos meus pensamentos: o ponto de partida de todos os meus sonhos, meu verdadeiro lar.
O uivo do vento já não mais fazia o papel do silêncio. O silêncio passou a existir em essência, em absoluta ausência do som, pelo menos, até ser quebrado pelo agudo, porém, quase que imperceptível tilintar da presilha da correia que prende o capacete.
A cúpula é retirada e os sons e cheiros familiares, rostos e sorrisos tomam conta dos meus sentidos. Não estava mais só! Seguro nos braços da família, encontrava-me feliz pelo reencontro com aqueles que tanto amo e pelo tempo comigo proporcionado pelo 'Menor Templo do Mundo'.
Christopher Eudes
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Cara, que....sem palavras....
eu lendo o que escreveu consegui sentir a mesma coisa, mesmo que nunca tendo viajado de motocicleta e estando em frente ao PC fechado em uma sala!!!! se é isso o sentimento de liberdade, paz euforia, adrenalina, tranquilidade, tudo misturado em cima da "magrela" quero muito ainda fazer o mesmo!!!
Parabens pela LINDA declaração de amor ao motociclismo!
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